Rio São Francisco

Dizem que eu nasci
No alto de um chapadão,
Das lágrimas de iati
Correndo pelo sertão,
Do choro de uma saudade,
Saudade é o amor que arde,
E queima o coração!
É vida que perde a graça,
É amor que nunca passa,
É dor de uma espera,
É lágrima que nunca seca,
Formando um rio sem fim!
Para os índios da minha foz,
Eu era somente opará!
Mas quando o homem branco,
A tudo quis conquistar
Tornou-se o meu algoz,
E para se apossar,
Na sua gana feroz,
Chamou-me de são francisco,
No meu encontro com o mar!
E eu quis levar o amor,
Nas águas eu quis levar,
Fartura para minha terra,
Quis o sofrimento arrancar,
Dos filhos do meu sertão,
De minas para bahia,
Em todo pedaço de chão,
Pernambuco, sergipe e alagoas,
Em toda e qualquer estação,
Quis eu matar a fome,
A raiva e a inanição,
Que seja numa gota dágua,
Ou numa simples oração,
Quis eu, o velho chico,
Trazer minha compaixão!
Mas o povo não entendeu
A mensagem do homem santo,
Daquele de quem herdei o nome,
Numa homenagem do homem branco,
Soube que assim dizia,
O santo lá de assis:
Que amando se é amado,
Que perdoando se é perdoado,
E que é preciso consolar,
Para ser consolado!
Mas eu que fui fruto,
Das lágrimas de uma paixão,
Eu continuo amando,
Esse povo e esse chão!
Assim como são francisco,
Na prece e em sua oração,
Perdoando os meus filhos,
Os filhos do meu sertão,
Que mantam a fauna e a flora,
Secando as minhas as águas,
Que trouxe o progresso outrora,
E o progresso que traz agora,
A minha destruição!
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Isabela Brasileiro - blogueira Contextual, arquiteta e urbanista, artista plástica, poetisa, atleta, uma autêntica geminiana que gosta, de fato, de criar!