Vi

Vi o hospital
Vi o cordão umbilical
Vi aquele rosto angelical.
Vi meninos na rua
Vi a verdade nua e crua.
Vi a escola
Vi a bola
Vi o medo da “sola”
Vi o namoro
Vi o choro.
Vi pela fresta da janela
Vi a tampa na panela
Vi o choro de emoção no olhar dela.
Vi aliança e o casamento
Vi naquela mudança o meu momento.
Vi um filho
Vi outro filho.
Vi...
Vi o Rio (o de Janeiro) nos Jogos brilhar
Vi o Rio (o Doce) agonizar
Vi o Domingos, o Rio (o Velho Chico) levar.
Vi Francisco no Muro das Lamentações
Vi um Chico unir todas as religiões.
Vi a amarelinha cair de 7x1
Vi um avião levar 71
Vi o mundo torcendo somente por um.
Vi o povo na rua, o povo na rede
Vi o povo do Nordeste ainda morrendo de sede.
Vi Forrest Gump contar história
Vi Donald Trump levar a vitória.
Vi 60 mil homicídios escancarados
Vi 11 milhões de desamparados
Vi o choro dos desesperados.
Vi mata cair, governo ruir
Vi a politicagem trair.
- Chega! Não quero mais nada ver.
- Deixa de frescura, menino! Abre os olhos que a vida quer te ter.
Vi chefe, blefe e tabefe.
Vi dólar, esmola e pistola.
Vi gente, na jornada, transtornada.
Vi gente, na estrada, motivada.
Vi Saul, Santiago e o bem.
Vi aquele que quer ser alguém.
Vi amigo chegando...
Vi amigo partindo...
Vi, também, amigo sorrindo.
E todos os dias, um raio de sol abre todas as portas de um recomeço e de uma nova jornada.
E os olhos, um pouco avermelhados, pelo cansaço e pelas provações, seguem como janelas da alma.
De uma alma que só quer...(vi)ver.
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Renato Gueudeville é empresário, louco por futebol, otimista (até que a última luz se apague), fundador e blogueiro do Contextual.