Eu enxergo

(palavras dedicadas a Pedrinho*).
Carrego aqui um abraço carinhoso
Um amor que não cabe em mim
A certeza de uma longa estrada
Que parece não ter fim
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Tudo ainda no começo
Tudo ainda muito novo
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Pergunto tudo outra vez, pergunto tudo de novo
Cada som que ouço é um olhar da minha alma
Abaixo a cabeça, concentro-me, apenas sinto
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Minha vida não será fácil, mas não quero fazê-la difícil
Vou enfrentar com doçura a amargura
Percorrer meu sacrifício
Não preferi ser assim. Não sei se a vida tem que ser justa. Talvez ela não seja mesmo.
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Mas ser diferente não me faz menor. Faz-me especial, maior, mais forte e normal.
Daqui eu vejo ondas sonoras, escuto o que ninguém escuta. Pequenos estalos, quem fez, de onde fez. Eu tenho um olhar diferente sobre o mundo.
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Enxergo pelos meus ouvidos, aguço os meus sentidos. Ouço as cores, ouço as paisagens, imagino o colorido.
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Sim, o mundo é belo para mim. O meu mundo é perfeito. Não preciso de choro e nem de lamento. Preciso que confiem em mim. Eu posso ser feliz, explorar meu tempo, voar com o vento.
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Enxugue essas lágrimas. Eu posso tudo o que eu quero. Eu tenho o que preciso. Eu não olho, mas eu enxergo.
(*) Nota do autor: Pedrinho é um garoto de apenas seis anos. Divertido, curioso e amado pela sua família, ele brinca e estuda como qualquer menino da sua idade. Por ter nascido sem enxergar, é ainda mais especial. Pedrinho tem uma sensibilidade ímpar e outros sentidos muito mais desenvolvidos do que outros garotos. Ele tem também o que se chama de "ouvido absoluto", que é a capacidade de reconhecer quaisquer acordes musicais apenas pelo som. É uma criança muito feliz e que faz felizes todos os que têm a chance de cruzar seu caminho. Eu a tive. E por isso sou muito grato.
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Rômulo Gabriel Lunelli. Canhoto, casado com o direito, amante da música e dando uns pegas na literatura. Cantor, compositor, instrumentista e fundador do projeto MWSA (Music, Wine and Some Attention). Pai apaixonado e procurador federal. Blogueiro Contextual.