Dez camas

Se eu tivesse dez camas agora pra deitar
Saberia quais corpos iria descansar
Botaria meus dez, um a um, para dormir
Ô sorte que eu tenho em existir!
É que a vida nos dá de presente
Coisas, aplausos, saúde, sossego e patente
Mas a vida não sabe, mas sente
Que a melhor coisa da vida é ganhar gente!
Gente que trabalha, gente que sorri, gente que se engasga, as que já não vivem aqui...
Povo que rala, batalha, se espalha, que gosta de onde mora,
Tem corpo que voa, e alma que chora.
E todos outros aqueles que cismam em fincar os pés no chão,
Mas gente que acima do amor não coloca a razão.
A vida sorri pra gente se abrir
A um encontro que faz a gente subir
Com gente que tem sede por nova história
E que quando a vida balança, em gente se apoia.
Se eu tivesse dez camas agora pra deitar
Saberia quais corpos iria descansar
O relógio me aponta as horas achando que é tarde,
Mas achar companheiros pra vida nunca teve idade.
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Alice Demier é diretora audiovisual, compositora, mãe do Vicente, escritora nas horas vagas (ou nas mais tumultuadas) e blogueira Contextual